Nesta quarta-feira, dia 27, estive no programa da manhã da SIC, Casa Feliz, onde apresentei o meu livro Aqui há Mel e partilhei um pouco sobre a minha história. Todos temos uma história para contar e somos feitos de partilhas. Como já escrevi anteriormente aqui no blog, o meu livro é sobre experiências e desafios, sobre a auto-estima e a confiança, sobre as inseguranças e a superação. E em forma de poesia. Durante muito tempo guardei apenas para mim algo que marcou a minha infância e adolescência. Pela genética, sempre fui magra, e pela forma como o meu metabolismo funciona, isso sempre foi muito fácil de se manter. Desde cedo, fui marcada pelo bullying e pelos comentários negativos acerca da minha aparência. Felizmente sempre fui saudável. Mas, para a maioria das pessoas, eu tinha de ter algum problema por ser magra. Diziam que eu não devia comer, ou que devia ter um problema de saúde, ou que devia fazer alguma dieta. Mesmo que explicasse que sempre fui assim e era uma herança genética, os comentários continuavam, dando-me a sensação de não ser ouvida ou compreendida. Tenho perfeita noção de que ainda existe uma mentalidade que associa a magreza a algum problema, e sei que alguns dos comentários vinham em forma de preocupação. Também sei que muitos falam sem consciência do peso que as palavras podem ter, e do que elas podem causar. E devemos refletir como, por vezes, a sociedade está mais preparada para uma abordagem negativa do que para uma positiva. Porém, e sem me aperceber, abri a porta para a ansiedade e para a pressão que sentia por não corresponder a certos padrões, ou expectativas, e de estar longe de atingir o que era supostamente normal. Hoje sei que não é assim. Mas foram muitos os anos que me escondi na roupa que disfarçava melhor o facto de ser magra. Apenas era livre quando estava com os meus, que me conheciam e que me entendiam, que me aceitavam e que me faziam sentir bem. Mas quando regressava à escola ou ao trabalho, vestia a minha “farda” para estar o mais protegida possível. Preocupo-me que isso ainda aconteça nos dias de hoje. Preocupo-me com quem ainda se esconde na roupa, mas, sobretudo, na dor, na falta de auto-estima, nas inseguranças, e na crença de que não são suficientemente bons para algo. Por isso, passados estes anos a achar que não era capaz de partilhar algo tão meu, consegui fazê-lo agora, e desta forma. Não por mim, porque, como disse na Casa Feliz, não trago a mágoa do que aconteceu, de algo que, felizmente, consegui curar e superar. Mas sim, por e para quem precisa de uma voz amiga, de um apoio e de saber que não está só. Trago da minha experiência a preocupação de que estas situações ainda tenham lugar no mundo. Quando tomei consciência de que estava apenas nas minhas mãos tratar da minha auto-estima, da minha confiança e de trabalhar as minhas inseguranças, tudo foi muito mais fácil. Mais natural. Mais leve. Mais certo. É uma responsabilidade apenas nossa. Não podemos esperar que outros validem a nossa existência, ou que garantam a nossa auto-estima, porque isso depende somente de nós próprios. Tenho de referir que esta é a minha história, mas que também serve para quem passou por situações semelhantes, sejam elas ligadas ao peso, à cor da pele, à etnia, à religião, à orientação sexual, ao género, ou qualquer outro tipo de situação ou de preconceito. Quero dizer que todos somos mais fortes do que pensamos, que todos temos capacidades únicas, e que estas são válidas como todas as outras. Quero dizer que isto é um trabalho diário, e que há dias bons e dias menos bons. Fazem parte. Todos os desafios trazem-nos aprendizagens e ferramentas. Por exemplo, com a Fotografia trabalhei a minha confiança e quebrei as minhas barreiras. Também os livros foram excelentes vozes amigas que me ensinaram e ajudaram muito. Hoje tenho outra força para enfrentar certas situações. Hoje consigo relativizar outras tantas. E é mesmo um trabalho diário como referi. Se tivesse acreditado que a minha sensibilidade era uma fraqueza, não teria o meu livro, por exemplo. E não teria esta oportunidade de conseguir ajudar alguém com o meu exemplo e com a minha história. O livro Aqui há Mel é uma parte de mim e é o meu processo. Se vos conseguir abraçar através das minhas palavras, missão cumprida.

A vida é uma autêntica aprendizagem, e a viagem pode ser bonita. A sensibilidade é o que nos faz humanos. E todos temos muito trabalho pela frente, que só numa sintonia de respeito e humanidade é que conseguiremos ultrapassar, superar, evoluir. Vivemos tempos de reflexão. E se há algo que esta pandemia também nos trouxe, foi a oportunidade de termos tempo para pensar, refletir, melhorar e de dar valor às coisas com uma força ainda maior.

Somos mais fortes do que pensamos. E não estamos sozinhos!

Obrigada a todos pelo carinho e pelas mensagens. Obrigada pela partilha.
Deixo também um agradecimento à SIC, ao programa Casa Feliz, à equipa de produção,
ao João Baião e à Diana Chaves.
Muito obrigada, de coração.

– Fabiana Couto